sábado, 31 de julho de 2010

A história do Crato Cearense

História de Crato (1)

Por:
Armando Lopes Rafael


Vista parcial de Crato (bairro Ossian Araripe e início do Parque Grangeiro)
O Vale do Cariri
A cidade do Crato está localizada numa das regiões mais bonitas do Nordeste brasileiro: o Vale do Cariri, Sul do Estado do Ceará. A maioria dos historiadores opina que o povoamento deste vale pelo colonizador branco começou no início do século XVIII, ou mesmo no findar do século XVII. Atraídos pela fertilidade do solo, exuberância da vegetação e abundância dos mananciais d’água existentes nestes rincões, criadores de gado provenientes da Bahia e Sergipe del Rey trouxeram a esta região seus rebanhos e aqui construíram os primeiros currais. No Cariri eles já encontraram os primitivos habitantes da região, os indígenas da etnia cariri, espalhados por diversas aldeias, que emprestaram seu nome para denominar esta região.


Como tudo começou
Por volta de 1741, surgem os primeiros registros de um aldeamento dos índios Cariús, pertencentes ao grupo silvícola Cariri. Era a Missão do Miranda, fundada por Frei Carlos Maria de Ferrara, religioso franciscano, nascido na Itália. Este frade ergueu, no centro da Missão, uma humilde capelinha de taipa (paredes feitas de barro) coberta com folhas de palmeiras, árvores abundantes na região. O santuário foi dedicado, de maneira especial, a Nossa Senhora da Penha, a São Fidelis de Sigmaringa e à Santíssima Trindade. Até 1745 a imagem da Mãe do Belo Amor (foto ao lado) foi venerada na capelinha de Frei Carlos.Em volta da capelinha, ficavam as palhoças dos índios. Estes, além de cuidarem das plantações rudimentares, recebiam os incipientes ensinamentos da fé católica, ministrados por Frei Carlos. Aos poucos, nas imediações da Missão, elementos brancos foram construindo suas casas. Era o início da atual cidade do Crato. Não padece dúvidas de que o fundador do Crato foi o Frei Carlos Maria de Ferrara.

Vila Real do Crato





Em 21 de junho de 1764, a Missão do Miranda foi elevada à categoria de Vila, tendo seu nome mudado para Vila Real do Crato, em homenagem à homônima existente no Alentejo português. Com isso se cumpria o Aviso de 17 de junho de 1762, dirigido pela Secretaria dos Negócios Ultramarinos ao Governador de Pernambuco. Mencionado aviso autorizava o governador a criar novas vilas no Ceará, recomendando, entretanto, substituir a denominação dos povoados com nomes de localidades existentes em Portugal. A partir daí, a Vila Real do Crato foi trilhando a senda do processo civilizatório, sempre inspirado no que vinha de bom do Reino, ou seja, do que chegava da metrópole portuguesa. A marca do pioneirismo passaria a caracterizar a existência de Crato, como veremos nas postagens seguintes.
Notas:
1 - A história da imagem venerada em Crato com o nome de Mãe do Belo Amor
A imagem da Mãe do Belo Amor, pequena escultura de madeira, medindo cerca de 40 centímetros, é venerada, desde os primórdios da Missão do Miranda – origem da cidade de Crato – que data do segundo quartel do século XVIII. Presume-se que até 1745 esta pequena imagem foi venerada na humilde capela de taipa, coberta de palha, construída na atual Praça da Sé por Frei Carlos Maria de Ferrara.Esta estátua sempre foi aureolada por muitos fatos pitorescos e lendários. Monsenhor Rubens Gondim Lóssio, escrevendo sobre esta representação da Virgem Maria, em trabalho publicado na revista Itaytera, afirmou: “Herdada dos ancestrais indígenas, existia uma pequena imagem da assim chamada Nossa Senhora do Belo Amor, de todos venerada”.
Não nos foi possível apurar as razões que levaram Monsenhor Rubens a concluir que a imagenzinha da Mãe do Belo Amor fora herdada dos indígenas, primeiros habitantes do Vale do Cariri. Entretanto, no artigo já citado, ele menciona um fato que merece transcrição. Na segunda metade do século XX, um conhecido e respeitado ancião cratense, o Sr. José da Silva Pereira, secretário do Apostolado da Oração de Crato, escreveu ao então vigário da Catedral, Monsenhor Francisco de Assis Feitosa, um documento, do qual extraímos o texto a seguir transcrito:
"Há na nossa Catedral três imagens que representam nossa padroeira, Nossa Senhora da Penha. O que vou narrar nestas linhas se refere somente à primeira, que é a menor das 3, esculpida em madeira, como as duas últimas. Trata-se de uma bela imagem que honra a arte antiga e a habilidade de quem a preparou. Segundo dizem os antigos, ela tem para mais de duzentos anos, mas nada deixa a desejar às que se fazem atualmente. Pertencendo ao número das imagens aparecidas, ela tem também a sua lenda bastante retocada de suave poesia. Conta-se que fora encontrada em poder dos índios (sem dúvida os Cariris), passando às mãos de pessoa civilizada. Aqui toma vulto a lenda que gira em torno do seu nome, pois afirmava que, repetidas vezes, ela voltara ao cimo de pedra onde os indígenas a veneravam. Este fato miraculoso deu lugar à fundação da Capela, onde hoje é a nossa Catedral, naquele mesmo sítio, tão profundamente respeitado. Quanto à idade que lhe atribuem, provam-na os documentos referentes à fundação da povoação, hoje transformada nesta importante Cidade de Crato. Para mais corroborar o misticismo que a tradição empresta à nossa querida santa, ocorre que esta desapareceu de nossa igreja há mais de cinqüenta anos, voltando agora aos seus penates, onde está sendo venerada por grande numero de fiéis. Os antigos deram-lhe o nome de “Belo Amor”, o que prova a piedade filial dos nossos antepassados. Respeitemos o passado, sua história, suas tradições e suas lendas, que nos falam sempre daqueles que abriram caminho a nossa vida".
2 - A terceira foto postada nesta matéria é de uma vila localizada ao sopé da Chapada do Araripe, no município de Crato.Postei-a por ter a mesma paisagem e vegetação que emoldurava a antiga Vila Real do Crato nos seus primórdios.

Fonte: http://caririag.blogspot.com/2008/12/historia-de-crato-1.html

Um resumo da história cearense


A produção historiográfica da América - latina é eurocêntrica e ocidentalizaste, logo com o Brasil não seria diferente. Já que a história da conquista, da dominação e do expansionismo lusitano é construída com esta visão européia, ganhando até a expressão “Descobrimento do Brasil”, pois nega a historicidade do povo ameríndio. A Etno-história é uma ferramenta muito importante para exorcizarmos esta visão eurocêntrica da história do Brasil e podermos entender a origem não só dos ameríndios do Ceará, mas de todo o Brasil, e só através da etno-história poderemos montar o quebra-cabeça para termos condições de construímos a historiografia do Ceará colonial.

Além dessa visão eurocêntrica que tem um caráter fortemente ideológico e dominador, a versão oficial que atribui o descobrimento a Cabral está errada. O primeiro europeu a chegar ao Novo Mundo-Brasil foi o espanhol Vicente Pinzón que aportou no litoral cearense de Santa Maria de La Consolación (Mucuripe) na manhã do dia 26 de janeiro de 1500. Pinzón não é considerado o descobridor porque esta terra pertencia a Portugal conforme os termos do Tratado de Tordesilhas. - A origem do nome Ceará é imprecisa. No início era escrito com “s”: Siará, Seara, Ciará e Ceará, com diferentes significados conforme os diversos autores: “cantar forte”, “canto da jandaia”, “pequeno periquito”, “abundância de caça”, “caranguejo branco” ou uma variação de Saara (deserto africano). - Antônio Cardoso de Barros, donatário da capitania, não tomou posse da terra. O Siará Grande só começou a ser conquistada pelos portugueses no início do século XVII, com a bandeira de Pero Coelho( Forte de São Tiago, na Barra do Ceará) e com a missão catequética dos padres Francisco Pinto e Luis Figueira. Ambos fracassaram.

O mito fundador do Ceará foi formulado pelo romancista José de Alencar que atribuiu a conquista do território a um ato de amor entre a índia Iracema e o guerreiro branco Martim, pais do primeiro cearense , Moacir – o filho da dor. O guerreiro branco era Martim Soares Moreno que edificou na barra do rio Ceará o Forte de São Sebastião e é considerado pelos escritores românticos o “fundador do Ceará”. - Os holandeses invadiram o Ceará duas vezes; na segunda em 1649, levantaram na embocadura do rio Pajeú (enseada do Mucuripe) uma fortificação, a que deram o nome de Schoonenborch. A expedição saiu do Recife com o comando de Matias Beck, "a serviço da pátria e da Companhia das índias Ocidentais", pretendia encontrar prata no Monte Itarema, em Maranguape. O forte foi o centro das atividades militares e de exploração. Em 1654 os holandeses foram derrotados e entregaram o forte aos portugueses, que o reformaram (substituindo a construção de madeira por alvenaria) e dele fizeram quartel e sede do governo da capitania, com o novo nome de Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção, berço da atual capital cearense. Entre 1621-56 o Ceará ficou submisso ao Maranhão. De 1656-1799 permaneceu na dependência de Pernambuco, o que dificultou o desenvolvimento local- Portugal ordenou o estabelecimento da primeira vila do Ceará em 1699 -a de São José de Ribamar-, que por anos se deslocou entre a Barra do Ceará, o Forte de Nossa Senhora de Assunção e Aquiraz, e só ficou definitivamente nesta localidade em 1713.

Fortaleza somente foi elevada à categoria de vila e capital em 1726 e não apresentou até a 2ª metade do século XIX, maior importância econômica-política. Em 1736, Icó foi elevada à condição de vila, a primeira do interior; Aracati alcançou a categoria de vila em 1748; Sobral, em 1773. - Os Jesuítas buscaram catequizar os índios nos aldeamentos que deram origem a vários núcleos urbanos da atualidade, como Viçosa do Ceará, Caucaia, Parangaba, Messejana, Barbalha e Baturité, entre outros. - Na economia o Ceará foi outro Nordeste, sem a riqueza da cana-de-açúcar ou o esplendor do pau-brasil. A ocupação econômica do sertão ocorreu com o avanço da pecuária conduzido por aventureiros atraídos pelos excelentes pastagens e do bom clima dos sertões. À proporção que conquistavam terreno, instalavam currais para nuclear os rebanhos que conduziam, e, sem demora, oficializavam suas conquistas com a obtenção de datas ou sesmarias. O avanço da pecuária levou a expulsão dos índios na “guerra dos bárbaros”. Alguns silvícolas foram domesticados e aproveitados no trabalho como vaqueiro, recebedores da remuneração em forma de quarta. A produção no séc. XVII de charque (Carne seca) foi um dos fatores para o crescimento de Aracati, tida como o “pulmão da economia cearense”. Sobral( “princesa da zona norte”)e Icó também merecem destaque na chamada “Civilização do Couro”.

A Revolta dos Padres ocorreu em 1817 em Pernambuco. Foi um movimento emancipacionista liberal e republicano. No Ceará apenas a vila do Crato, com a família Alencar, aderiu a revolta que foi sufocada e Bárbara de Alencar se tornou a primeira mulher presa por razões políticas na história do Brasil. - As províncias do Grão-Pará, Cisplatina,Bahia, Piauí e Maranhão não aceitaram a independência do Brasil.Nas duas províncias do nordeste as tropas portuguesas eram comandadas por Cunha Fidié. O Ceará teve decisiva participação na campanha contra o comandante português. Um exército improvisado, de mais de seis mil homens, sob as ordens de Pereira Figueiras e Tristão Gonçalves, enfrentou o inimigo em Caxias e fê-lo capitular , a 1º de agosto de 1823.

O Ceará participou da Confederação do Equador(1824), movimento separatista, liberal e republicano contra o absolutismo de D. Pedro I que outorgou a Constituição de 1824. Os principais líderes—Tristão Gonçalves, Pereira Figueiras, Pessoa Anta, Padre Mororó, entre outros,acabam mortos com o fracasso da revolta. - Em 1831, com a abdicação de Pedro I, O monarquista, coronel de Jardim, Pinto Madeira iniciou uma guerra civil no Ceará contra os liberais do Crato pela hegemonia do Cariri.Os jagunços que lutaram de ambos os lados mal sabiam as razões da guerra dos coronéis. Pinto Madeira foi derrotado, julgado e fuzilado em 1834.

Em 1840, ocorreu a Revolução de Sobral—conservadores tentaram assassinar o presidente liberal da província, senador Alencar. Este, porém, derrotou os inimigos. - O Ceará anuncia oficialmente a extinção da escravidão negra em seu território, sendo pioneiro no Brasil, em 1884.

Nessa campanha abolicionista, destaca-se Francisco José do Nascimento, o “Dragão do Mar”. O pioneirismo cearense deveu-se ao pouco peso do braço escravo na economia local, ao aumento do tráfico interprovincial de escravos, a resistência negra, ao movimento abolicionista e a seca de 1977 que arruinou a economia cearense. Francisco José do Nascimento: o “Dragão do Mar” – líder abolicionista- O plantio do algodão, voltado para o mercado externo, foi favorecido pela Revolução Industrial inglesa, Independência dos Estados Unidos e teve o apogeu com a Guerra da Secessão americana. Fortaleza,capital e cidade coletora e exportadora do algodão, teve importantes beneficiamentos. São dessa época: ruas calçadas e iluminadas a gás, rede ferroviária, telefones, lojas bem montadas, bons educandários. Chegavam as idéias novas com a “Academia Francesa” e os jornais cearenses se caracterizaram pelo espírito polêmico. Fortaleza assumiu a condição de principal cidade do Ceará, cresceu e se “aformoseou”, imitando os padrões parisienses, era a época do “Belle Epoque”.

A Padaria Espiritual se destacou entre os vários grupos intelectuais cearenses do final do século XIX . Fundada por Antônio Sales, os padeiros se reuniam no Café Java na Praça do Ferreira e agitaram a cultura local com humor e ironia. - O povo cearense assistiu bestializada a proclamação da República. Gerônimo Jardim, o último presidente monarquista, foi deposto e assumiu o poder Luiz Ferraz que faleceu em 1891.O novo governador João Cordeiro, afastado pelo deodorista Clarindo de Queiroz. Este foi deposto por uma revolta, ascendendo ao poder o grupo político do ex-monarquista e republicano “de véspera” Nogueira Accioly. - A oligarquia comandada por Nogueira Accioly dominou o Ceará de 1896 a 1912 com características de nepotismo (emprego de parentes nos cargos públicos), despotismo, corrupção e natureza monolítica. As razões da hegemonia aciolina devem ser buscadas na adesão à Política dos Governadores, violência contra a oposição, apoio dos latifundiários do interior do estado com destaque para o “pacto dos coronéis” articulado pelo padre Cícero Romão. A queda de Nogueira Accioly, apelidado de “babaquara”, ocorreu após uma revolta popular em Fortaleza e está ligada à “Política das Salvações” do presidente Hermes da Fonseca. As oposições comandadas por Franco Rabelo derrubaram Accioly, mas não alteraram o sistema oligárquico-clientelista. Apesar disso, o povo comemorou nas ruas de Fortaleza a queda do oligarca.

A Sedição de Juazeiro foi a deposição do salvacionista Franco Rabelo em 1914 pelos romeiros e sertanejos coaptados e comandados por Floro Bartolomeu, este aliado político e acessor do Padre Cícero, por motivos inerentes a conjuntura política caririense da época, Pe. Cícero aliou-se a oligarquia aciolista. O temor da Igreja Católica conservadora com o crescimento de uma igreja de vanguarda e popular de valorização dos pobres e excluídos produziu a questão religiosa de Juazeiro que se agravou ainda mais com o “milagre da hóstia” que virou sangue na boca da beata Maria de Araújo. O Bispo D. Joaquim não reconheceu este suposto milagre. Cícero morreu em 1934, excomungado pela Igreja Católica. Hoje há um intenso movimento dentro da Igreja por sua reabilitação. Para o povo do sertão, o Padre Cícero Romão Batista já é um “santo” e foi escolhido recentemente em votação popular o “cearense do século”.

Prof. José Cícero


sábado, 15 de maio de 2010

Caldeirão de Santa Cruz do Deserto

Caldeirão do Beato

Prof. José Cícero Gomes

Houve um tempo no nordeste brasileiro em que os beatos e beatas se multiplicavam, a religiosidade popular reinava entre a massa despossuída de bens materiais e de dignidade humana, em uma terra miserável assolada pela estiagem cíclica. O homem sem fé em Deus e no Padre Cícero (Padim Ciço), era algo raro entre os pobres sertanejos. Tão grandiosa era a religiosidade no meio popular que a Igreja Católica Oficial começou a ver com temor os movimentos do povo de caráter religioso e messiânico, e também a preocupava alguns fatos extraordinários ocorridos no meio popular.
A elite rural caririense uniu-se a cúpula do clero conservador, temendo o crescimento e a união dos miseráveis através da fé, do companheirismo, da solidariedade e da fraternidade que os levavam a perceber que eram todos iguais na mesma fé e nas mesmas dores. A borra de aristocracia caririense comença a se articular juntamente com a cúpula da igreja caririense contra a forma dos pobres sertanejos vivenciarem sua fé porque esta nova maneira de ser católico ameaçava os interesses dos mesmos.
Ainda nem se falava em religião libertadora nem no Brasil, nem em lugar nenhum, já se praticava uma nova forma de ser católico no Cariri cearense pelo Padre Cícero Romão Batista, pelos beatos e pelos romeiros da Mãe de Deus. Uma Igreja de vanguarda onde havia a valorização do leigo, e paralela a Igreja Católica oficial Esta religiosidade do meio popular resultou na articulação de grupos heterogêneos que formaram a unidade ideológica de caráter messiânico que marcou a comunidade do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto sobre a liderança do beato José Lourenço.
É de fundamental importância esclarecer que havia dois beatos de nome José, um era serviçal do Padre Cícero, e o outro era o beato José Lourenço líder religioso do povo do Caldeirão. Este último chega a Juazeiro do Norte no ano de 1890, vindo do Estado da Paraíba. Zé Lourenço como era chamado pelos seus irmãos de fé e infortúnios, era paraibano.
Atraído pelas noticias das ações beneméritas de caráter humanitário e pelos milagres do padre Cícero muitos agricultores sem terras chegaram a terra da Mãe de Deus fugindo da fome, entre estes muitos que chegaram em 1890, estava José Lourenço. O jovem paraibano Zé Lourenço como era chamado o beato ao chegar a Juazeiro do Norte, com a idade de vinte anos . José Lourenço nasceu em 1870, filho de agricultores sem terra, cresceu vendo seus pais agregado à terra de um coronel latifundiário e explorador. Aos vinte anos ele fazia parte de uma irmandade de penitentes (uma fraternidade de homens e mulheres sofridas unidos pela fé, penitência e a oração). Ele era um agricultor experimentado e tinha muito amor à terra e ao trabalho da roça, era um homem perseverante de temperamento agradável e espírito tenaz, algo que contribui para se tornar líder de um povo.
O padre Cícero encaminha o beato com sua gente para o sítio Baixa Dantas de sua propriedade, sítio este que mais tarde fica para os padres salesianos, após a sua morte em 20 de julho de 1934. Esta propriedade do padre Cícero ficava próximo do Crato, ali o beato se fixa com sua gente e prospera. Alguns historiadores não conhecedores dos fatos afirmam que esta propriedade era
de um tal coronel João de Brito, pecam nesta afirmação porque não existiu um coronel, mas um major João de Brito e era dono de uma pequena propriedade próximo de Juazeiro. Em 1914, o perímetro do sítio Baixa Dantas sofreu os resultados negativos da guerra, as plantações foram destruídas pelos inimigos do Padre Cícero, obrigando assim, ao beato e a seu povo se refugiarem em Juazeiro sob a proteção do Padim Ciço.
Em 1926, o beato José Lourenço fixar-se com seu povo na serra do Araripe no município do Crato numa localidade que ficou conhecida como Caldeirão do beato ou da Santa Cruz do Deserto. Quanto ao caldeirão há muitas afirmações erradas em alguns trabalhos, alguns dizem que o caldeirão era um sítio do Padre Cícero, mas erram duas vezes, primeiro porque não era um sítio e segundo porque nunca foi do Padre Cícero. O caldeirão era terras devolutas não agricultáveis que o beato José Lourenço juntamente com seu povo transformar em terras agricultáveis.

A formação social do Caldeirão

Vejamos inicialmente, como se deu o processo migratório de vários rincões do sertão nordestino para a região do Cariri cearense na década de noventa do século XIX e nas décadas de dez e vinte do século XX.
A formação social da comunidade do Caldeirão do beato Zé Lourenço formou-se por um único grupo social praticamente, por um exército de famintos retirantes que no início contabilizavam cerca de 400 famílias que foram atraídas pela pregação do beato. Famílias estas ávidas, por pães, justiça social e por um milagre que viesse mudar a sina ingrata de um povo cansado dos castigos da seca e da exploração patronal que os condenavam a miséria, a fome, a opressão, e a exclusão social.
Acabaram tendo proteção do Padre Cícero Romão Batista. O sacerdote lhe concedeu o direito de habitar uma propriedade abandonada, num sopé da serra do Araripe. Não demorou muito, onde fundou uma comunidade com base na fé, no trabalho e no amor ao próximo, a comunidade do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto.
Quanto aos dados estatísticos sobre o número exato de homens, mulheres e crianças no Caldeirão não temos por que nunca foi feito um censo nem pelo beato, nem tão pouco pelo Estado que não se preocupava com esta gente até o momento que estes ameaçaram a normalidade do status-quo. Mas segundo pessoas que viveram sua juventude em Juazeiro do Norte na época da existência do Caldeirão do beato Zé Lourenço a estimativa é de 400 famílias, o saudoso senhor José Afonso Alves juazeirense que residia na época que foi entrevistado na Rua São Paulo 1410, eles deixou claro que a população de Juazeiro do Norte em 1932 não ultrapassava a casa de dez mil habitantes. Quanto ao Caldeirão não foi encontrados dados oficiais, mas os dados de Juazeiro conferem.

A articulação dos inimigos do Caldeirão

A idéia de que o Caldeirão foi uma “conspiração do silêncio”, um “Canudos Menor” e o beato José Lourenço teria reeditado Antônio Conselheiro na chapada do Araripe, no Sul do Estado do Ceará no início do século XX. Vem-nos a mente quando não conhecemos os fatos ocorridos no Caldeirão de Santa Cruz do Deserto.
De certa forma há muitas coisas em comum, mas José Lourenço difere do Conselheiro porque não há um discurso anti-republicano, o que há é uma pregação que chama campesino do Cariri Cearense a se libertar de toda forma de opressão do corpo e do espírito. A religiosidade popular que fomentou a fraternidade, a união e o trabalho produzindo desenvolvimento e dignidade humana na comunidade do beato. Foi o motivo que levou a elite rural local juntamente com a cúpula da Igreja do Crato, articularem o fim do Caldeirão do beato Zé Lourenço.
Criaram varias inverdades, tais como o povo do beato estaria adorando um boi como o povo de Moisés, o tal boi era Mansinho o seu nome, um boi que o Padre Cícero havia ganhado de presente de um romeiro, este fato se dar ainda quando o povo do beato ainda vivia em Baixa Dantas. O Caldeirão passou a ser visto pelos poderosos como uma ameaça maior. Logo, as calunias e as difamações sobre o beato e seu povo também se tornaram maiores e mais violentas, sob a liderança do bispo da cidade do Crato chegaram a dizer que o beato estava casando e batizando, fizeram uma denuncia formal na delegacia deste município afirmando que o beato era uma ameaça para a sociedade caririense, a queixa é registrada e o delegado do Crato manta uma intimação para o beato José Lourenço por um soldado. Este infeliz é encontrado morto por um chofer (motorista), e chega ao Crato pinicado de peixeira (faca) e este homicídio é atribuído ao beato e seu povo pelas autoridades do Crato que só queriam uma desculpa para destruir o Calderão de Santa Cruz do Deserto, até hoje não se deu comprovação da veracidade da culpa do beato e do seu povo neste crime, nem se foi uma artimanha (uma maquinação) da classe dominante para por a culpa em um povo ordeiro, trabalhador e tementes a Deus.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Povo pega em armas sob ordens de Floro Bartolomeu da Costa para defende o Padre Cícero



Professor José Cícero Gomes*

Não são raros artigos degradando ou exaltando apaixonadamente a imagem do padre Cícero Romão batista tenho a convicção que a história deste controvertido Brasileiro deve ser repensada e recontada a luz da razão, a primeira tentativa foi feita nos anos 60 pelo sociólogo estadunidense Ralph della Cava, em sua obra Milagre em Juazeiro. Trabalho este que durou 12 anos de sua vida para fica pronto e lhe rendeu o doutorado em sociologia. Não basta ler o trabalho de alguns incautos desinformados, e sair reproduzindo falsas verdades. Faz-se necessário repensamos a história do Cariri cearense do início do século XX, sem paixões e leviandades, ou simplesmente o que todos vêm fazendo. Reproduzir inverdades a cerca do conflito entre Marretas e Acciolis ocorrido no Ceará em 1914, tendo como palco o Juazeiro. Essa questão nos leva a indagar: A quem interessa atacar a imagem do Pe. Cícero? E a quem interessa exalta? Não podemos esquecer que a interpretação historiográfica do historiador depende do seu ponto de vista sobre os fatos e de sua ideologia.

Não foi Padre Cícero que convocou os romeiros para a luta contra as forças da capital em 1914. Mas, Dr. Floro usando de um estratagema cooptou os sertanejos, sabendo da fidelidade dos romeiros ao seu "Padim Ciço". Dr. Floro alega que Franco Rabelo estavam enviados homens para arrancar a cabeça de Padre Cícero. Logo ele convenceu os romeiros a defender seu Padrinho, o sertão nordestino foi novamente abalado por uma grande revolta popular de motivação religiosa, mas de caráter político ocorrida em Juazeiro do Norte, na região do Cariri interior do estado do Ceará.

Padre Cícero afirmava categoricamente que a chefia desse movimento, coube a seu grande amigo Dr. Floro Bartolomeu da Costa. A revolução de 1914 foi apoiada pelo Governo Federal e tinha por objetivo de depor o Presidente do Ceará, Cel. Franco Rabelo. Com a vitória da revolução, Padre Cícero reassumiu o cargo de prefeito, pois ele havia sido retirado pelo governo deposto, e seu prestígio cresce muito no Juazeiro e região. Sua casa, antes era visitada apenas por romeiros, passou também a ser visitada por políticos e outras autoridades. Porém, o padre Cícero nunca abriu mão de sua identidade sacra, do seu papel de guia religioso, de líder espiritual de seu povo, para se tornar um político profissional, tampouco abriu mão da mística do “milagre” e de sua visão messiânica, simbólica do catolicismo popular, daquele primeiro sonho que teve quando Cristo encarregou-o de cuidar do Juazeiro e de seu povo. Este perfil sem dúvida não de um “Coronel” latifundiário ou de um político das classes dominantes como alguns historiadores por desconhecer os fatos tentam pintar um padre coronel. Após a proclamação da República no Brasil, em 1889, o quadro político-econômico do Ceará começou a se transformar. Alguns anos depois, teria início a poderosa oligarquia acciolina, que recebeu esse nome por ser comandada pelo comendador Antônio Pinto Nogueira Accioli, que governou o estado de forma autoritária e monolítica entre 1896 e 1912. Seu sucessor, Franco Rabelo (1912-1914). Chega ao poder, obtendo o referendo de apenas 12 deputados, quando necessitava de 16. O acordo e a aproximação de Rabelo com o grupo político de Paula Rodrigues levou muito ex-aliados para oposição. Rabelo acabou renunciando em 14 de março de 1914 diante da forte oposição do padre Cícero e de Floro Batolomeu da Costa. A situação de desesperadora miséria e abandono social era uma marca profunda do Cariri cearense nessa época, o que levou Padre Cícero a entrar na política para proteger seus pobres, e apóia a decisão de Floro em posicionar-se ao lado da oligarquia de Nogueira Accioli. Juazeiro do Norte era uma cidade não fazia muito tempo que havia se emancipado do município do Crato. Seu surgimento se deveu a um sonho do Padre Cícero, onde Cristo encarregou-o de cuidar do Juazeiro e de seu povo. Mas após suposto milagre da Beata Maria de Araújo (cuja hóstia teria se transformado em sangue), atraiu o olhar reprovador, a perseguição, o abandono e a excomunhão de sua igreja a qual foi submisso e fiel até seus últimos dias, mas também conquistou uma imensa massa de sertanejos pobres e religiosos que iam ao seu encontro em busca de refrigero para a alma e para o corpo, já que ele matava fome de muitos que o procurava, e também passou a conquistar inimigos entre a pseuda aristocracia cratense que não passava de meia dúzia de coronéis e seus apaniguados. Estes passaram a ver o Padre Cícero como inimigo porque ele acolhia os pobres que fulgiam da exploração e da submissão. Muitos passaram a morar em Juazeiro, de modo que em pouco tempo o local possuía milhares de moradores, e Padre Cícero os ensinavam alguns ofícios e orientava aqueles que tinham profissões a serem multiplicadores e Juazeiro vira uma cidade oficina e oratório. Como não tinha o apoio da alta hierarquia católica, Padre Cícero procurou evitar que Juazeiro tivesse o mesmo fim trágico de Canudos e aliou-se ao poder político dos coronéis. Daí o porquê de muitos ainda hoje, o ter como um padre "coronel de batinas”. Quanto ao Padre amigo de cangaceiros e outra inverdade, como Cristo, o sacerdote veio para os pecadores e não para os livres de pecados. Lampião era mais um afilhado como tantos no sertão nordestino que assim se consideravam, ele só esteve uma vez em Juazeiro do Norte, e entrou sozinho na cidade. Ele enviou um cabra para pedir permissão ao padrinho para entrar, mas Padre Cícero só permitiu a sua entrada, e ele deixou a cabroeira na entrada da cidade e foi pedi sua bênção.

O povo de Juazeiro, porém, não lutou por uma defesa política. Mas para defender o seu o "Padim Ciço". Eles creditaram ser aquela uma agressão contra Padre Cícero, pois a revolta popular foi articulada por Dr. Floro e os acciolinos da região com o objetivo de retomar o governo do Ceará.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Siará


História do Ceará

A história do Ceará tem início com a criação da "Capitania do Siará", O atual nome Ceará vem da palavra tupi que significa canto da jandaia, uma espécie de pequeno papagaio grasnador que se encontra na listra de espécie em via de extinção. Segundo registro do governo colonial português a Coroa concede a capitania do Siará a Antonio Cardoso de Barros em 1535. Uma expedição comandada pelo açoriano Pêro Coelho de Souza fundou na região, a colônia denominada Nova Luzitânia em 1603. Juntamente com o grupo, chegou também um rapaz de 17 anos, Martim Soares Moreno, considerado o verdadeiro fundador do Ceará. Conhecedor da língua e dos costumes indígenas, mantinha amizade fraternal com os nativos, o que lhe valeu fundamental apoio para a derrocada dos franceses e holandeses que também pretendiam colonizar a região. Em 1619, depois de muitas lutas contra invasores estrangeiros, naufrágios e prisões, Soares Moreno obteve uma carta régia que lhe dava o título de Senhor da Capitania do Ceará, lá se fixando por muitos anos. Seu romance com a índia Iracema foi imortalizado pelo escritor brasileiro José de Alencar, em seu livro intitulado "Iracema".

No Ceará, a ocupação se deu a partir de duas rotas distintas: uma pela costa litorânea, saindo de Pernambuco em direção ao Maranhão e Pará, e a outra pelo interior, vinda da Bahia e de Pernambuco, compreendendo a área que vai do médio São Francisco até o rio Parnaíba, nos limites do Piauí e Maranhão. O Sertão cearense foi ocupado através da pecuária extensiva. Seu principal agente - o vaqueiro - correu caatinga a dentro para formar um pequeno rebanho e estabelecer-se.

O Ceará fez parte do Estado do Maranhão e Grão-Pará em 1621. Foi ainda invadido duas vezes, em 1637 e 1649, pelos holandeses que ocupavam a região onde hoje se encontra o Estado de Pernambuco, mantendo-se a ele subordinado até conquistar sua autonomia, em 1799. O desenvolvimento da pecuária em Pernambuco e na Bahia levou criadores a ocuparem o interior do Ceará. As vilas foram se formando junto às grandes fazendas ou nos pontos de descanso das tropas vindas do sul.

A historiografia clássica já demonstrou que a economia pastoril colonial do Ceará significou a presença dominante de homens livres entre os vaqueiros e seus auxiliares, na sua maior parte indígenas. Daí a presença predominante da cultura indígena na nossa formação.

Com a entrada do algodão no circuito exportador (entre 1780 e 1820), as mudanças na estrutura social do sertão se aceleram. No Ceará, algodão e gado não se colocavam como atividades excludentes. Pelo contrário. Eles passam a ser o binômio determinante no nosso sertão.

Em 1824, o Ceará participou da Confederação do Equador, juntamente com os Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba. Os principais confederados se encontravam na região do Cariri Cearense. Ali viveu na cidade do Crato a heroína Bárbara Pereira de Alencar, sem dúvida, esta pernambucana de nascimento e cearense de coração é um dos maiores símbolos da mulher caririense. Guerreira, idealista, líder da revolução de 1817 no Cariri.

O Estado começou a se desenvolver na segunda metade do século XIX, com a chegada da navegação a vapor, das estradas de ferro, da iluminação a gás e do telefone. Foi a primeira província brasileira a libertar seus escravos por motivos que nos obrigam a desmistificar os relatos historiográficos de cunho positivista e liberal, de uma abolição “precoce” (1884), e também uma das primeiras províncias a aderir à República.

Na virada deste século, o espaço cearense estava já nitidamente circunscrito: sertão do gado e do algodão, Fortaleza litoral, entreposto comercial. Neste quase cem anos que se seguiram, o sentimento coletivo criou uma espécie de nação cearense, com civilização e cultura próprias, seus artistas e seus sábios, cujas obras no todo refletem a geografia física e social deste pedaço do Brasil.

Cícero